Tecido poliéster: o que é e quais os seus impactos

Poliéster é uma categoria de polímeros que, quimicamente falando, contém um grupo funcional éster na cadeia principal. Apesar de existirem muitos tipos de poliéster, o termo normalmente é usado para se referir ao politereftalato de etileno, ou PET. Sua composição pode ser natural e sintética, tornando alguns tipos biodegradáveis, enquanto grande parte dos poliésteres sintéticos não o são.

A maioria dos tipos de poliéster é composta por termoplásticos que possuem diversas aplicações. A principal é a produção de tecidos e malhas utilizados em camisas, calças, lençóis, cortinas, móveis e estofados. No vestuário, apesar de possuir um toque artificial em relação às roupas feitas com fibras naturais, o tecido de poliéster é um material que apresenta algumas vantagens. 

Como maior durabilidade, retenção de cor e resistência a rugosidades. Por tais motivos, é muito comum a mistura de fibras de poliéster com as fibras naturais na confecção de roupas, garantindo características combinadas ao tecido.

Além do vestuário, o poliéster é usado como matéria-prima na produção: 

  • Garrafas de plástico (garrafas PET)
  • Filmes
  • Filtros
  • Tinta em pó
  • Reforços para pneus
  • Material isolante
  • Enchimento de almofadas
  • Telas de LED
  • Acabamentos para instrumentos musicais e outros produtos

Entretanto, seu uso tem impactos ambientais que vão desde sua produção até seu descarte. Na produção do poliéster são emitidos compostos orgânicos voláteis (VOC) e efluentes contendo antimônio. E seu uso, o descarte correto e o incorreto geram um material nocivo a humanos e animais, o microplástico.

Entenda esses temas com mais profundidade nas matérias:

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História do poliéster

Os químicos britânicos John Rex Whinfield e James Tennant Dickson, empregados da Calico Printer’s Association, de Manchester (Inglaterra), patentearam o politereftalato de etileno (PET), em 1941, com o apoio da pesquisa de Wallace Carothers. O PET é a base das fibras sintéticas, como o poliéster

Whinfield e Dickson, juntamente com os inventores W.K Birtwhistle e C.G Ritchiethey, criaram o primeiro poliéster chamado de terylene, em 1941, pela Imperial Chemical Industries (ICI). Logo em seguida, a Dupont lançou o dácron, a segunda fibra de poliéster, em 1951, desenvolvida a partir da compra dos direitos autorais do terylene.

Nos anos 1960, a produção de fibras manufaturadas se acelerou devido à contínua inovação no mercado, alcançando cerca de 30% do consumo americano. As revolucionárias novas fibras ofereciam conforto, soltavam-se mais facilmente, conseguiam ser mais brancas, brilhavam mais e eram mais resistentes.

Hoje, o poliéster é amplamente reconhecido como um tecido bastante popular. Com o avanço da tecnologia o poliéster está muito bem consolidado no mercado. Isso também se dá devido a descoberta das microfibras e as diversas aplicações possíveis para esse material.

Polímeros biodegradáveis

Polímeros biodegradáveis são polímeros nos quais a degradação resulta da ação de micro-organismos de ocorrência natural como bactérias, fungos e algas. Eles podem ser consumidos em semanas ou meses sob condições favoráveis de biodegradação. Eles podem ser provenientes de fontes naturais renováveis como milho, celulose, batata, cana-de-açúcar. Ou serem sintetizados por bactérias a partir de pequenas moléculas como o ácido butírico ou o ácido valérico.

Os polilactatos (PLA) e os polihidroxialcanoatos (PHA) podem ser citados como exemplo de polímeros biodegradáveis que pertencem à classe dos poliésteres. Para saber mais sobre esse tema, acesse as matérias:

Plástico PLA: opção biodegradável e compostável
Bioplástico PHA: o biopolímero do futuro?

Reciclagem de poliéster

Apesar de serem feitas a partir do petróleo, as fibras de poliéster podem ser recicladas em alguns casos. Camisetas de poliéster que utilizam garrafas PET como material de base hoje são comuns. Ainda assim, esses objetos podem continuar liberando micro e nanoplástico no ambiente.

Bebês estão ingerindo microplásticos

Esse processo de utilização de garrafas PET para a produção de tecidos de poliéster traz benefícios. Como a não utilização do petróleo, uma diminuição de 70% do gasto de energia com relação ao que seria necessário para a produção de uma fibra virgem. Além de evitar que as garrafas acabem sendo descartadas no meio ambiente. O tecido também é 100% reciclável, podendo ser usado até mesmo no caminho inverso na produção das garrafas PET.

O vídeo (em inglês) mostra o processo de fabricação do poliéster a partir das garrafas PET:

O principal problema envolvendo a reciclagem desse material está na mistura dos tecidos. Afinal, é comum vermos uma vestimenta com uma porcentagem de poliéster em sua composição junto com outras fibras. 

Essa mistura dificulta a separação de poliéster para a reciclagem do material, tornando muitas vezes o vestuário não reciclável. Outro problema é o custo. Uma fibra de poliéster reciclada é cerca de 20% mais cara do que uma virgem, além de possuir menor qualidade.

Problemas ambientais do poliéster

Por ter como base o petróleo, a produção de poliéster não é sustentável, além disso, a extração da matéria-prima traz diversos danos ao meio ambiente. A manufatura de poliéster utiliza grandes quantidades de água para resfriamento. Juntamente com uma grande quantidade de químicos nocivos, como lubrificantes. Eles podem se tornar fontes de contaminação se não forem realizados os devidos cuidados. 

O processo de produção utiliza também grandes quantidades de energia. Além disso, alguns tipos de poliéster não são biodegradáveis, podendo levar até 400 anos para se decompor na natureza.

Outro problema ambiental envolvendo o poliéster é a contaminação por microplásticos que acabam se desgarrando de suas fibras durante os ciclos na máquina de lavar, prejudicando ecossistemas. Pequenos animais se alimentam do plástico contaminado e, ao longo da cadeia alimentar, acabam propagando a intoxicação até os seres humanos.

Microplásticos liberados na lavagem de roupas: existe solução?

Em um estudo recente, pesquisadores descobriram que, em uma simples lavagem, uma peça de vestuário de poliéster pode soltar até 1900 microfibras. Esses resíduos seguem junto com a água utilizada na lavagem para seu destino final: corpos d’água e oceanos. 

Foi descoberto também que, dentre os materiais produzidos pela humanidade que são encontrados nas costas oceânicas, cerca de 85% é composto por microfibras de materiais sintéticos. Além da questão dos microplásticos, não se sabe ao certo os outros impactos do poliéster no meio ambiente. E o problema é que grande parte das superfícies dos oceanos já está contaminada por microplásticos.

Ambientes marinhos e de água doce no Brasil sofrem com poluição por microplásticos, de acordo com estudos

Orgânicos ou sintéticos?

Foto de Cindy C na Unsplash

Apesar das fibras naturais serem melhores para o meio ambiente por serem biodegradáveis, sua produção em massa vem causando diversos impactos ambientais. 

A produção de algodão é a maior utilizadora de agrotóxicos no mundo, utilizando 25% de todo o consumo mundial durante seu cultivo. Assim, levando a contaminações que causam a morte de milhares de pessoas a cada ano. Além disso, é estimado que cerca de dois terços da pegada de carbono gerada durante a fabricação de uma peça de vestuário ainda será emitida após sua venda.

Na realidade atual, estamos muito longe de um sistema sustentável de vestuário. Ainda não é percebido que o material na fibra é apenas uma parte do impacto gerado pela indústria têxtil. Estima-se que 20% a 50% da pegada ecológica de uma peça de roupa seja oriunda do transporte. Além da distribuição e do descarte do material.

Como os dois tipos de matéria-prima possuem um grande impacto, deve-se buscar as melhores alternativas. A utilização de fibras orgânicas mais ambientalmente amigáveis, como o algodão orgânico, tende a ser melhor opção por não utilizar químicos na sua produção, não poluindo o meio ambiente. 

Outras fibras orgânicas alternativas, como tecidos à base de soja e de bambu, também já são encontrados no mercado, apesar de terem um volume muito baixo. Nas fibras sintéticas tendo uma boa durabilidade e degradando menos o meio ambiente se comparadas às fabricadas de forma convencional.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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